Cálice
domingo, 18 de janeiro de 2009 |
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Estava lá faziam três meses, as paredes altas, o teto encaridido, a cama que nem cama parecia e a porta. Uma porta de metal, reforçada, grossa. Estava lá esperando, esperando cada dia uma nova tortura, cada dia um inferno. A lâmpada que pendia do teto era velha, empoeirada, e tinha um aspecto bem suspeito. Esssa era minha vida nos dias da ditadura militar. Esperando cada dia a tortura e a comida, que nem sempre vinha, e quando vinha era péssima.Então a porta se abriu e "algo" foi jogado no chão. Ou melhor, uma mulher. Depois de uma seção de tortura ela estava imunda, os cabelos negros estavam molhados e a o rosto empapado de sangue. Susas pernas tinham cicatrizes de chicotes ou algo parecido. perto do seu sexo haviam marcas que pareciam ter sido feitas por choques elétricos. Sem dúvida aquela mulher estava pior que eu.
Corri para pegar um camisa velha e pus-me a limpar seu rosto, seus cabelos, suas costas, seus seiso enfim, limpei-a toda. Quando acabei, ela, olhando para mim, agradeceu. Não sabia bem o que eu significava para ela naquela hora, mas tinha certeza que a tinha salvado.
Senti seu corpo se apoiando no meu e ela levantando, ela me olhando, ela me amando. Senti seus lábios nos meus e percebi que agora eu era um amante para ela. Percebi que de repente tinha arrumado alguém a quem amar. Que eu tinha salvado o amor. E segurei sua mão e olhei seus olhos, o azul do mar reinava neles.
Ela estava deitada agora, a vida parecia estar por um triz. pareciamos não ser mais humanos, mas animais. Comecei a me odiar, desse dia em diante, porque ela e não eu?
A tortura, me torturava todas as noites com os gritos e gemidos de celas vizinhas. Eu sentia a dor deles, eu sentia o amor deles, eu era a vida que eles não tinham mais. Esperava voltar a ser alguém, esperava não me sentir mais um bicho.
Esperava um um futuro. Esperava amar.
Marcadores: contos
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"Onde queres o ato, eu sou o espírito
e onde queres ternura, eu sou tesão.
Onde queres o livre, decassílabo
e onde buscas o anjo, sou mulher.
Onde queres prazer, sou o que dói
e onde queres tortura, mansidão.
Onde queres um lar, revolução
e onde queres bandido, sou herói"
Caetano
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Soneto de Fidelidade
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."