Amor, Interrompido
sexta-feira, 10 de junho de 2011 | Opine aqui

"Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação"
CAIO F.

O cheiro destes remédios todos me enoja, não posso ficar aqui por muito tempo senão acabo vomitando, por isso sempre fujo e continuo fugindo com a mente solta e os olhos esbugalhados, sempre assim, sem que me seja possível controlar o que penso e pra qual lado vou, fico lá olhando para qualquer coisa, fazendo uma viagem para a China ou para Andrômeda.
A cama ao lado vazia e eu só no quarto claro, livros e mais livros na estante, parece que ela quer compensar de qualquer forma o fato de ter me colocado aqui, mas acontece que alguma coisa se quebrou, alguma coisa se partiu entre nós duas e não há mais volta, nunca mais seremos as mesmas.
(cama desajeitada comigo e contigo nus ali, manhã cedo, já faz tanto tempo né? já faz tanto tempo que nos conhecemos e que nos cedemos e que nos trocamos e que nos partimos, eu sempre sentirei tua falta e talvez seja por isso que ela tenha me mandado para cá, depois que tu te atirou daquele prédio eu mudei muito, depois daquilo é que começaram estes olhares para o nada, depois daquilo contei tudo para ela, sobre nós dois, não tinha mais como esconder, tu não tem noção de como eu chorei por ti trancada no quarto balbuciando ou gritando teu nome esperando tua volta como se ainda morasse na casa ao lado, mas não, não voltarias, e não voltarás e sim, contei tudo pra ela e ela, que te odiava, desvairou, disse que eu não era filha dela, que eu era filha das macegas e coisas assim, depois emputeci, chupei o pau do Marquinhos, dei muitas vezes pro João e até praquela bicha do primeiro ano, Bruno, que tinha medo de se assumir - nada foi igual desde aquele dia e desde talvez aquele passo que tu deu em direção ao ar gelado da cidade, nada foi igual - depois que emputeci e ela ficou sabendo, claro, eu vim parar aqui nesse lugar fedendo à louco e remédio, já disse pra ela que não é nada, que é só tua falta, só isso, que me deixe emputecer chorando pelos cantos enquanto te sinto longe, mas que não me deixe aqui cerrada trancada morrendo na solidão entupida de mandrix babando babando babando feito cão a tua morte - porque, meu amigo, porque? ainda hoje não saberia responder, ainda hoje, três anos depois e nem que se passem ainda mais cem saberei, te aguardo de braços abertos ao fim disso tudo sobre a avenida para te segurar quando despencares da torre mais alta mais e mais e mais uma vez e ainda que meu braços quebrem e ainda que tudo queira nos separar te esperarei mesmo assim amor da minha vida, depois antes durante a morte que agora me convida para dançar nesse quarto claro que me nauseia - te choro, aqui esta dor nunca passará e nem em lugar algum, amor interrompido assim nunca cessa, sempre te lembrarei e sempre ficarei a encarar o vácuo pensando em ti em algum lugar distante como China e Andrômeda)
Agora ela vem ao meu encontro como se na primeira oportunidade que tiver ela não cogite me abandonar e me esquecer aqui nesse lugar de náuseas, entupida de mandrix chorando coisas irreparáveis como a morte.
E eu a afasto.
Nunca mais seremos as mesmas, digo.
Já começo a lembrar de um lugar distante - China ou Andrômeda - enquanto ela vai indo vai indo vai indo vai indo embora.
(Não estou mais aqui, mas ainda carrego tua dor).


Seja o que for

"Onde queres o ato, eu sou o espírito e onde queres ternura, eu sou tesão. Onde queres o livre, decassílabo e onde buscas o anjo, sou mulher. Onde queres prazer, sou o que dói e onde queres tortura, mansidão. Onde queres um lar, revolução e onde queres bandido, sou herói" Caetano

O blog

Para Jéssica,
porque "o que obviamente não presta
sempre me interessou".

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Soneto de Fidelidade

"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."