78 Rotações
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009 |
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Entrei na velha casa, com certeza ela precisava de reparos, não muitos, mas precisava. Sentei-me no sofá vermelho claro com detalhes em dourado, a vitrola antiga, com uma pequena caixa de som do lado, os tapetes grandes e quase sem cor. Dirigi-me a vitrola e coloquei um 78 rotações pra rodar. Fui pra sacada e lá fiquei, meu apart-hotel era na orla de copacabana, olhei o céu escuro salpicado de estrelas e o mar iluminado pelos holofotes. Elizeth cantava entre os arranhões do disco e eu ouvia sua voz saindo da pequena caixa de som. Ouvia como quem ouve da primeira vez, com os primeiros olhos. Mesmo perto a praia agora parecia distante, eu estava perdido, não sabia onde acabava o céu e onde começava o mar.
Fiquei lá, tentando descobrir onde findava um dia e começava outro, onde findava tarde, e começava a noite, a manhã se aproximava e lá continuava a olhar o nada da escuridão do céu.
Senti a leve brisa marítma tocar meu pescoço como uma mulher que acaricia seu parceiro. Eu era o parceiro da noite, eu era parceiro da vida e todas as noites ia ao bar, Antônio Carlos no piano e Billy cantando enquanto todos ouvindo atentos as canções de Canção do Amor Demais.
E assim que a vi, estranhei: uma mulher, entrando na água, ela usava algo parecido com um vestido, olhou para mim e despareceu, assim simplesmente, não a vi mais, vão vi o nada, porque o nada era ela, assim como eu, era um nada.
E então ela estava do meu lado e não estava mais, estava perto e estava longe e me olhava com os olhos ávidos, e a boca úmida e os cabelos esvoaçantes.
Ela era minha nova companheira, enfim, compreendi. Era a que ia me acompanhar para a aternindade. Ela era a pessoa que iria me ver e me cuidar para sempre.
Ela era a morte.
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"Onde queres o ato, eu sou o espírito
e onde queres ternura, eu sou tesão.
Onde queres o livre, decassílabo
e onde buscas o anjo, sou mulher.
Onde queres prazer, sou o que dói
e onde queres tortura, mansidão.
Onde queres um lar, revolução
e onde queres bandido, sou herói"
Caetano
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Soneto de Fidelidade
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."