Reflexo
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008 | Opine aqui
O meu reflexo sobre a água permanecia nitido e feroz, as minhas mãos tremiam com uma taça de champagne barato às mãos, as minhas costas estavam arquedas pelo tempo, pelo viver que me deixara assim, velho, inútil, eu estava me comportando agora como um inútil, sim, pois tudo à mim era feito, tudo que eu ainda tinha condição es de fazer e que eu mesmo podia tê-lo feito, eu sentia que estava me tornando um peso para a vida de muito outros. Me sentia apenas um refelxo por sobre aquela água suja de um lago.
As rugas que se viam naquele reflexo representavam cada ano que vivi aventuradamente, junto com Cecê, minha já falecida esposa, o velho que me olhava não era o mesmo do ainda jovem que olhava pra ele, lá na água. 
Ainda gostava de aventuras, ainda me faziam bem como o cheiro de Cecê, ou o cheiro das rosas perfumadas que ela plantava. Avistava pessoas ao longe, pessoas queridas, amigos, que guardei pelos anos, os inúmeros anos que me tiraram a juventude, ainda que tardiamente. Eles estavam felizes, eles pelo menos o pareciam, eu nem me importava mais, o que eu queria mesmo era estar agora ao lado de minha esposa e brincar com nosso filhos à varanda, mas a vida me impedia disso, o rumo que ela tomou me impedia, queria que Cecê me visse agora, indefeso e indiferente. 
Então enfim me tornei parte da água, ficaria lá, até que alguém viesse encontrar o meu reflexo num lago sujo.

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Soneto de Fidelidade

"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."