Bodas de Prata
quarta-feira, 22 de outubro de 2008 |
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Fazia 25 anos, exatamente hoje, que estavam casados. Fazia 25 anos de amor, condicional e incondicional. Amor abstrato. Que não tinha forma, que se podia ver de todos os ângulos. Amor infinito, amor total. 25 anos de cobiça e de avareza. Mas também, 25 anos de fartura e felicidade. Fazia 25 anos.
Ele levantou-se pela manhã e, como de costume, colocou as chinelas velhas e quase rebentando, 'devo comprar novas, ainda amanhã', mentalizou. Então lembrou-se, 25 anos de casamento, hoje, 25 anos.
Olhou para a esposa deitada ao seu lado, ela parecia velha, cansada. Não era mais a mesma, não depois de vinte e cinco anos. Lembrou-se do primeiro filho, hoje com 23, que com certeza viria lhes visitar, mas que esquecera de avisar. De repente ouviu os habituais resmungos da mulher quando acordava. Levantou-se e foi ao banheiro.
Olhou seu reflexo no espelho, ah, como tinha envelhecido, 49 anos de experiência, de vivência e vinte e cinco de amor.
- Oi, querido - ela lhe beijou os lábios como o mesmo ardor de vinte e cinco anos atrás - Feliz Aniversário de casamento.
- Olá, pra você também.
Olhou agora as pequenas rugas que começavam a aparecer no rosto rosto, em seus áureos 45 anos, que deixava para trás hoje, em seu aniversário de casamento.
- Eu acho que esse é o momento mais adequado para seu presente - sussurrou a mulher em seu ouvido -: a verdade.
Ele olhou atônito para ela, sentia que algo importante estava para acontecer e não podia esconder sua tensão. A mulher lhe fitava e ele atônito não sabia o que fazer.
- Eu estou morrendo - uma lágrima seca escorreu-lhe pelo olho e pousou levemente no seu robe estampado de flores - Eu estou morrendo. Eu tenho cancêr terminal.
- Não, não pode ser verdade...
- Mas é - agore mais lágrimas lhe escorriam do rosto pousando em seu robe.
Ele olhou o triste casal que os fitava no espelho, nem sequer os reconhecia. Parecia que não eram eles. Fitou novamente e se viu, exausto, triste e obtuso.
Essa foi a triste lembrança do dia em que fazia vinte e cinco anos de casamento. Fazia 25 anos de amor, condicional e incondicional. Amor abstrato. Que não tinha forma, que se podia ver de todos os ângulos...
Marcadores: all, contos, hã?
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"Onde queres o ato, eu sou o espírito
e onde queres ternura, eu sou tesão.
Onde queres o livre, decassílabo
e onde buscas o anjo, sou mulher.
Onde queres prazer, sou o que dói
e onde queres tortura, mansidão.
Onde queres um lar, revolução
e onde queres bandido, sou herói"
Caetano
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Soneto de Fidelidade
"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."