Sem Título nº 3
domingo, 7 de agosto de 2011 | Opine aqui

"I'm sure
You hate to hear
That I adore you, dear"
COLE PORTER

Escuta aqui guri, olha pra mim, para de uma vez por todas de dizer que a vida é bela, que é bonito viver, olhar tudo como se fosse a última vez e tudo mais. Não é. Não me diz mais nada porque tu nem teve tempo de desistir ainda, tu é tão novo que nem sabe como o tempo se instala feito reumatismo em nós e dói, como o amor corrói o coração. Sabe aquela coisa funda suja que eu vivo dizendo que sofro por ela, aquilo é amor, boy, nada dessa coisa de filme de beijo debaixo da chuva e sorrisos no meio do nada. Amor gosta de entrar em todos os espaços do corpo, amor gosta de possuir, olhar, sentir com intensidade. Amor dói menino. Por isso não venha me falar de como tudo é lindo, de como a vida é bela, de como não dói. Dói sim, bem fundo no peito, nas mãos, no meio das pernas. Olha pra mim, não diga que me ama, entendeu? Não me peça pra te amar, não, vamos ficar só aqui ouvindo esse disco antigo, tomando essa vodka que tu trouxe, cheirando o pouco de coca que eu ainda tenho em casa, mas não vamos amar. Não misture sexo e coração. Não te amo, querido. Se quiser pode abrir a porta e partir. Todas aquelas vezes foram por falta de amor, e não o contrário. Puro desejo. Você é tão bonito, tão moço, tão ingênuo. Não precisa ter medo disso tudo que eu digo, porque é verdade, mais cedo ou mais tarde tu descobre chorando em um canto qualquer talvez por mim, talvez por aquele teu colega, qual o nome dele mesmo? Ah, sim, Paulo, talvez tu descubra o amor pensando no Paulo, sim, como tu queria ele perto o tempo todo, como tu sente ciúme vendo ele no meio dos outros, como no banho ele é todo teu e tu é dele . Ah, não me venha com isso. Sei que tu não me ama guri, não precisa se envergonhar, quem iria pensar em mim no banho e sentir-me seu? Não tu, com 20 anos ainda e eu já nos 30, como uma década nos muda né? Quando tinha a tua idade eu era igual a ti, olha o bagaço que eu virei. Quando tu descobrir que o amor dói e quiser chorar qualquer coisa gritando o nome dele tá aqui um ombro amigo. Vem aqui em casa que eu te faço aquele chá de marcelas que eu colhi nas manhãs da semana santa e tu te acalma. Também não é assim, né. De vez em quando acalma. O coração. Aí que a gente ri e deixa dessa bobagem toda de ser profundo ouvindo música triste. Aí a gente sai pela noite, qualquer coisa sem compromisso vale. Por isso que a noite é tão mais cheia de jovens, porque eles ainda não descobriram como dói, eles só conhecem essa coisa de sorrir. Agente já sabe que dói e que não adianta, continua mesmo que acalme e continuará para sempre. "Assim é, foi, será, dói aqui nas costas de tanto dormir e noutro lugar também, mas forte ainda, nem sei bem onde".


Seja o que for

"Onde queres o ato, eu sou o espírito e onde queres ternura, eu sou tesão. Onde queres o livre, decassílabo e onde buscas o anjo, sou mulher. Onde queres prazer, sou o que dói e onde queres tortura, mansidão. Onde queres um lar, revolução e onde queres bandido, sou herói" Caetano

O blog

Para Jéssica,
porque "o que obviamente não presta
sempre me interessou".

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Soneto de Fidelidade

"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."