Eco
segunda-feira, 13 de abril de 2009 | Opine aqui
Procurei seus olhos na escuridão, e só encontrei o travesseiro e a coberta estirados, ela já havia me deixado, sobre a cadeira onde havia deixado as roupas só havia uma carta. A li, reli, reli, reli. E nada encontrei, além de um fim, nem uma despedida. O que se acabou ali foi algo mais que um amor, foi algo mais que nós. Foi algo mais que o mundo. Meu mundo caiu.
Ela só deixara isso do nosso amor, um fim de noite e uma carta, nada mais, nada mai, nada mais. E eu, esperando encontrar romances, amores novos, vaguei pelas ruas da cidade, a cidade que quase deserta me fitava. Eu sentia seus olhos sobre mim e ficava chorando em becos escuros. Sentia pancadas, socos, mortes infinitas dentro de mim. E suportava. Suportava. Suportava.
Como suportei a perder, mas quando acabar a grande depressão, nós seremos felizes denovo, nós vamos sorrir, amar, rodar, rodar, rodar.
Nós vamos sair pela cidade, de mãos dadas e amar, amar loucamente. Eu a verei sair de casa rindo, segurando minha mão, uma nesga de cabeleira negra sobre o ombro. Amável, amável, amável. Amei.
E ela vai olhar para mim e sorrir, e eu vou sorrir também, e dar-lhe um beijo, infinito, infindado, infinifito, infinito. As tarde serão infinitas, infinitas, infinitas. E nós vamos nos amar verbalmente, vamos amar loucamente, e vamos nos destratar e nos odiar, e vamos querer cada vez mais.
Mas tudo isso não passa de uma ilusão, continuo vagando pelas ruas da cidade quase deserta, e a cidade continua a me fitar. E eu continuo chorando em becos escuros, escuros, escuros. Como um ciclo eu volto toda noite para a casa esperando te encontrar, mas só encontro o bilhete, que já vai assim meio amassado, rasgado, amarelado.
E agora vejo que não vai mais voltar, e tudo que eu fantasiei na rua não foi nada, nada, nada, não passou de uma mera ilusão. Ilusão. Ilusão.
E todas as noites isso se repete como um eco, eco, eco. Eco.


Seja o que for

"Onde queres o ato, eu sou o espírito e onde queres ternura, eu sou tesão. Onde queres o livre, decassílabo e onde buscas o anjo, sou mulher. Onde queres prazer, sou o que dói e onde queres tortura, mansidão. Onde queres um lar, revolução e onde queres bandido, sou herói" Caetano

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Para Jéssica,
porque "o que obviamente não presta
sempre me interessou".

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Soneto de Fidelidade

"De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."