Valsa Brasileira
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009 |
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Dias depois ainda me encontrava lá, no mesmo quarto de hotel, na mesma cidade. Dias depois ainda estava parado pela falta de fé, dias depois fiquei, dias depois senti, dias depois perdi.
Perdi a fé, o amor, o pudor, a mocidade, a felicidade, alegria. Não cabiam mais sorrisos mais em meu rosto, não cabia mais nada no meu rosto. Minha expressão era de nada, enfim, lá no nada parado é que eu estava mesmo. Eu estava lá como estive em toda a minha vida, parado, assim, sem passado ou futuro. Sem a fé.
Eu não tinha mais desejos, ou nojos, eu tinha agora era um constante vazio ao meu lado prostrado, ele é que fazia meus dias, minhas noites, meu nada. O meu vazio fazia meu nada.
A fé que perdi foi na vida, na descrença do crente, no amor, nela. Eu derrotado estava lá naquele quarto de hotel, eu detonado estava aguentando isso tudo, eu corno estava só no quarto de hotel, enquanto ela saia com outro, enquanto ela dormia nos braços de outro e eu, eu o sem nome, o vazio, eu estava lá. Ela saia com um Jorge Maravilha enquanto eu sofria, sorvia as dores do amor. O desamor era terrível.
Sentir as entranhas se esplodindo dentro de você é horrivel, sentir ela sair pela porta que bate é terrível. Sentir é terrível. Por isso não sinto mais.
Só sinto as agulha de vitrola tocando a "Valsa Brasileira".
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11 minutos
sábado, 24 de janeiro de 2009 |
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Onze minutos. Tudo que lhe pedi foram onze minutos, não dez ou sequer 12. Foram onze.
Jurei-lhe quem em onze minutos explicaria tudo, mostraria e esconderia novamente e a faria ficar comigo, troquei onze minutos pela minha vida. E agora os onze minutos se foram e eu continuo aqui, parado. Estático.
Os onze minutos que rezumiriam foram um fracasso, a profundidade da explicação não a abalou, me deixou, depois de onze minutos, depois de onze minutos de tensão e de amor puro. Despois de onze minutos vi a morte, depois de onze minutos morri.
Minha vida não passava agora de um cubo nas trevas, e eu, que estava soterrado até o pescoço pelos onze minutos, fico dentro dele. Eles acabaram e a levaram, eles acababaram e me levaram, os onze minutos não serviram de nada.
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Sem Palavras
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009 |
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Senti o frescor de sua pele tocando na minha. De sua pela clara e macia, Uma receita de mulher, como dirira Vinicius. Ela era perfeita. E eu a senti, eu a tive. Sem palavras.Sem palvras, os nossos braços se entralaçavam nas longas tardes nos parques, sem palavras, nas noites em que perdíamos a noção da hora, em que juntos jogávamos tudo fora. E voltavámos a ficar juntos.
Nas travessuras das noites eternas já confundimos juntos as nossas pernas, sem palvaras. Sentia seus braços no meu peito e fitava o teto, o amor tinha cheiro do seu cabelo, seu cabelo tão moreno quanto a noite, e seus olhos da cor de água brilhavam como dois sóis olhando para mim. Ela estava para mim como o amor está para a solidão.
Sentia seus dedos pequeninos tocarem em mim e estremecia, agora eu a tinha. Sem palavras. Sentia ela toda e agora eu a tinha. Sem palavra. Agora ela era a minha "morena dos olhos d'água".
Quando estavamos nas tardes perdidas do passado ela sentava-se em meu colo e olhavamos o horizonte, que se estendia infinitamente, ia até onde não mais se podia ver. Os campos verdes que nos cercavam e a laranjeira sobre nós, tudo era perfeito. Tudo sem palavras.
O amor era lindo, as noites lindas, tudo prerfeito, sem palavras.
Sem palavras.
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78 Rotações
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009 |
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Entrei na velha casa, com certeza ela precisava de reparos, não muitos, mas precisava. Sentei-me no sofá vermelho claro com detalhes em dourado, a vitrola antiga, com uma pequena caixa de som do lado, os tapetes grandes e quase sem cor. Dirigi-me a vitrola e coloquei um 78 rotações pra rodar. Fui pra sacada e lá fiquei, meu apart-hotel era na orla de copacabana, olhei o céu escuro salpicado de estrelas e o mar iluminado pelos holofotes. Elizeth cantava entre os arranhões do disco e eu ouvia sua voz saindo da pequena caixa de som. Ouvia como quem ouve da primeira vez, com os primeiros olhos. Mesmo perto a praia agora parecia distante, eu estava perdido, não sabia onde acabava o céu e onde começava o mar.
Fiquei lá, tentando descobrir onde findava um dia e começava outro, onde findava tarde, e começava a noite, a manhã se aproximava e lá continuava a olhar o nada da escuridão do céu.
Senti a leve brisa marítma tocar meu pescoço como uma mulher que acaricia seu parceiro. Eu era o parceiro da noite, eu era parceiro da vida e todas as noites ia ao bar, Antônio Carlos no piano e Billy cantando enquanto todos ouvindo atentos as canções de Canção do Amor Demais.
E assim que a vi, estranhei: uma mulher, entrando na água, ela usava algo parecido com um vestido, olhou para mim e despareceu, assim simplesmente, não a vi mais, vão vi o nada, porque o nada era ela, assim como eu, era um nada.
E então ela estava do meu lado e não estava mais, estava perto e estava longe e me olhava com os olhos ávidos, e a boca úmida e os cabelos esvoaçantes.
Ela era minha nova companheira, enfim, compreendi. Era a que ia me acompanhar para a aternindade. Ela era a pessoa que iria me ver e me cuidar para sempre.
Ela era a morte.
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Cálice
domingo, 18 de janeiro de 2009 |
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Estava lá faziam três meses, as paredes altas, o teto encaridido, a cama que nem cama parecia e a porta. Uma porta de metal, reforçada, grossa. Estava lá esperando, esperando cada dia uma nova tortura, cada dia um inferno. A lâmpada que pendia do teto era velha, empoeirada, e tinha um aspecto bem suspeito. Esssa era minha vida nos dias da ditadura militar. Esperando cada dia a tortura e a comida, que nem sempre vinha, e quando vinha era péssima.Então a porta se abriu e "algo" foi jogado no chão. Ou melhor, uma mulher. Depois de uma seção de tortura ela estava imunda, os cabelos negros estavam molhados e a o rosto empapado de sangue. Susas pernas tinham cicatrizes de chicotes ou algo parecido. perto do seu sexo haviam marcas que pareciam ter sido feitas por choques elétricos. Sem dúvida aquela mulher estava pior que eu.
Corri para pegar um camisa velha e pus-me a limpar seu rosto, seus cabelos, suas costas, seus seiso enfim, limpei-a toda. Quando acabei, ela, olhando para mim, agradeceu. Não sabia bem o que eu significava para ela naquela hora, mas tinha certeza que a tinha salvado.
Senti seu corpo se apoiando no meu e ela levantando, ela me olhando, ela me amando. Senti seus lábios nos meus e percebi que agora eu era um amante para ela. Percebi que de repente tinha arrumado alguém a quem amar. Que eu tinha salvado o amor. E segurei sua mão e olhei seus olhos, o azul do mar reinava neles.
Ela estava deitada agora, a vida parecia estar por um triz. pareciamos não ser mais humanos, mas animais. Comecei a me odiar, desse dia em diante, porque ela e não eu?
A tortura, me torturava todas as noites com os gritos e gemidos de celas vizinhas. Eu sentia a dor deles, eu sentia o amor deles, eu era a vida que eles não tinham mais. Esperava voltar a ser alguém, esperava não me sentir mais um bicho.
Esperava um um futuro. Esperava amar.
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Demais
terça-feira, 6 de janeiro de 2009 |
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Nada melhor do que um dia após o outro para percebermos quem somos e quem iremos ser. O dia é que me mostra quem somos e cada pessoa se expôe mais a cada dia pior. Ou melhor.
Ainda paira no ar um calor intensificado, do amor das pessoas que fingem, por ter acabado de passar o ano-novo.
As crônicas que escrevo ainda se referem ao novo, aos novos. À boa nova.
Sinto que hei de modificar os pensamentos esse ano, melhorar e ouvir. Ouvir mais o som que vem do fundo de minh'alma e começar a soltá-la. A largar de mão tudo que tinha antes. No auge dos meus recém-feitos 26 anos. Porque acho que cada ano-novo é um recomeço.
Novamente sou aquele garoto de 20 anos recém feitos, com um café e sentado a frente de um máquina de escrever e com 2 anos não completos de findados estudos. Penso agora onde foi ele e como em seis anos pude envelhecer tanto ao ponto de não me reconhecer mais, não me enchergar mais daquele jeito.
Certamente foi ela. Ela que me levou pro mau caminho e me fez machucar quem eu amava [maysa mode off/], me fez virar uma má pessoa. Espero o perdão que nunca terei, nem nunca daria à uma pessoa que só tivesse me feito sofrer. Mas sinto, e sinto que ainda sou aquela mesmo crinça nascida em 1950 que tinha as mão muito pequenas para segurar um chocalho.
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Feliz Ano Velho II
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009 |
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Olhei o barquinho pequeno que ia embora, lá ia nosso filha, ia à guerra, preferia ter ido eu, mas não meu filho, nunca meu filho. Ainda mais um dia depois do ano novo, queria-o aqui conosco, festejando a chegada de um 1945 onde a guerra acabaria. Onde tudo voltaria ao normal e poderiamos festejar e dançar, e cantar.
Estava um saco morar na Alemanha, mesmo tendo o0lhos azuis e um cabelo tão louro quanto o ouro. Ver seu filho sendo educado na base de um nazismo besta e por um führer que não valia nada, eu queria sair dali, levando mu filho junto, sair daquele inferno, esse ano eu decidi, ia sair, mas agora acontecera isso. Ele foi embora.
Só o barquinho atravessando o rio naquele inverno de 44/45, e foi ali que eu o vi pela última vez.
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Personas, Feliz 2009! Espero que ele seja repleto de alegrias, amor, paz e pa pa pa. Quem sabe não poste por um tempo, mas quando sair eu deixo um aviso, até.
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